Fonte: Portal Catarina: Biblioteca Digital da Literatura Catarinense

LITERATURA BRASILEIRA

Textos literários em meio eletrônico

Traços azuis, de Virgílio Várzea


Edição de base:

Virgílio dos Reis Várzea, Traços azuis,

Florianópolis [Desterro]: Tipografia de J.J. Lopes, 1884.

ÍNDICE

Traços azuis

As farinhadas

Indústria

Tons aurorais

Através do passado

Fitando-te

Ella

Viagem no azul

A Balbino de Brito

Linhas cor-de-rosa

Alerta!

Último pedido

O Bem

À noite

Suavidades

Alegre

Luiza Michel

Lá...

Os meus desejos

!

A tua rabeca

A tua mão

Flor azul

À Nicota

No cemitério

Noturno

Sombras

Azulejos

No tronco

Nostalgia

Deixa

Marocas

Desejo

Tua boca

A terra da luz

Guilherme de Azevedo

Paisagem azul

Ao largo!

Versos à...

Triste

No álbum

Cintilações

Ao ver-te de novo

Teus anos

Sons

Pela estrada da vida

Simplicidade

Lampejos

Urgente

Força equilibrante

Abolicionismo

As três irmãs

Festim vermelho

Doente

Fulgores

A Arão Ramos

Meu talentoso e excelente amigo

Ofereço-te este despretensioso trabalho,

como uma prova inexcedivelmente sincera

e profundamente sentida de simpatia e

devotamento.

Virgílio Várzea

Desterro, 1884.

 

Traços azuis

A  A...

Escuto-te essa voz esplêndida, sonora;

E sonho o meu viver tranquilo, radiante,

Quando sinto-te, filha, a cabecinha loira

Tombada no meu peito, alegre e palpitante.

Beijo-te mansamente os lábios cor de aurora,

Inundado de um júbilo heroico e triunfante;

E penso que nós vamos pela existência afora,

Como quem leva a alma aberta e cintilante.

Vejo no teu olhar aquela mansidão,

Suave e luminosa, de um grande coração,

Há transbordar de afagos, de festas e candura,

E creio que tu és a flor resplandecente,

Que sobre mim entorna um fluido rescendente,

Uns beijos, a tua alma, ó doce criatura!

 

As farinhadas

À minha prima e poetisa Belarmina E. da Silva

Num esteio pendurado

O candeeiro ferrenho,

Derrama por todo engenho.

Toda a família abaixada

A mandioca raspando,

No coxo a vai atirando

Para ser depois ralada.

O boi puxando forçoso

A almanjarra pesada

Tem o andar vagaroso

E o escrevo cantando

Vai a farinha torrada

Ligeiramente tirando.

Indústria

A Rodrigues Braga

O dia vem surgindo, o dia esplendoroso!

A aurora traz-me um beijo enorme, luminoso,

E faz que a flor estenda as pétalas azuis

Aos vagalhões de ouro de uma explosão de luz!

O coração palpita e sente um mago eflúvio

Que inunda todo peito assim como num dilúvio.

A grande mãe de tudo, a vasta natureza

Sente a latejação das formas da beleza.

O colibri dourado a namorar a flor

Murmura-lhe ao ouvido uns cânticos de amor.

O dia é uma alegria heroica, colossal!

Dele é que emana o bem, da noite emana o mal.

Eu vi, perto do templo atlético do Progresso,

A trabalhar sozinho, febril como um possesso,

Um homem majestoso, enérgico, viril,

Um rosto divinal como um riso de Abril,

Que resistia ao sono, à força do cansaço

Como resiste à bala uma muralha de aço.

Era um lidar sem fim, era um lidar bem nobre,

E não se lhe importava que acabasse pobre

Com tanto que chegasse, um dia, a concluir

Esse gigante férreo que faz a gente ir,

Em menos de uma hora, de Cádiz a Leão

Com a rapidez do raio rolando na amplidão.

E vinte cinco anos lutando sem cessar.

                

Esse homem que tem os músculos do mar,

Os nervos de Vanin, a força do querer,

Bradou: — Embora lute, do nada eu hei de erguer

Este colosso ingente e forte como um muro.

Pra isso sacrifício até o meu futuro.

..........................................................................

..........................................................................

Fiquei a olhai-o calmo e mudo como a fraga...

E perguntei-lhe o nome:

— Eu sou Rodrigues Braga.

Aquele que lutou por este dogma novo.

— Abrir um horizonte de luz a este povo.

A marcha do Progresso é a senda das auroras.

Quando se ouvir o som, as vozes rugidoras,

Da máquina que encurta a grande imensidade

Que tem a rapidez da eletricidade

E que dá seiva aos órgãos das nações

Na força gigantesca dos membros de leões...

Quando chegar-se a ver as formas monstruosas

Enormemente grandes, ciclópicas, caprichosas

Do Adamastor altivo e forte e vigoroso,

Que nunca tem descanso e nunca tem repouso

Que anda em uns labores ativos, colossais

Que fazem-nos lembrar os crânios geniais,

Que encaminha a marcha para as regiões de além

Sem demorar-se nunca, sem escutar ninguém

Quando sentir-se a orquestra, as mágicas surgem.

Que saem bem do peito das vastas oficinas

Envoltas simplesmente nessas cintilações

Que partem dos brasidos, dos rúbidos carvões,

Que fazem do Escuro um grande mar de luz

Divino como o rosto esplêndido de Jesus...

Então, havemos nós, num êxtase triunfante,

Por entre sensações, alegremente a rir,

Ao fogo que rebrilha gritar: — Avante! Avante!

Que se escancaram as portas vermelhas do Porvir.

 

Tons Aurorais

À encantadora menina Julieta de Lima Ferreira

Quando te vejo, criança,

Vermelha como o arrebol,

De olhos cor de esperança,

Cabelos da cor do sol!

Brincando alegre, risonha

Com bonequinhas mimosas,

Como quem, dormindo, sonha

Com coisas fantasiosas!...

Eu penso profundamente

Nessa quadra de magia

Em que tu, lírio ridente!

Colhes mil beijos suaves

Como a celeste harmonia

Do canto imenso das aves.

 

Através do passado

A Arão Ramos

Amigo! Quando lanço a vista penetrante

Por entre as nuvens róseas de uma era esvaecida,

E sinto uma saudade heroica, indefinida

Bater-me o coração — o órgão galopante...

Amigo! Quando à mente as rúbidas lembranças

Me vêm, patenteando aqueles belos dias

Que a gente tem o seio arfando de esperanças

Transpondo os penetrais das mansas alegrias...

Amigo! Quando lembro-me das infantis quimeras

Que no passar roçavam o lago azul das cismas

Em busca de ideais e frescas primaveras...

Sinto dentro do peito um brando misticismo,

Uns saltos vigorosos, soturnos, de aneurismas,

Uma tristeza doce, um são melancolismo!

 

Fitando-te

Sinto minha alma boiando

Sobre os teus olhos azuis!

Qual froco de arminho, brando

Sinto minha alma boiando;

E como quem está sonhando

Com lírios, canções e luz,

Sinto minha alma boiando

Sobre os teus olhos azuis!

 

Ella

Ao Dr. Costa Miranda

Eu vi, no mar imenso das cismas azulinas,

De claridões estranhas, passar, iluminada

Uma visão etérea: — de formas peregrinas,

Esplêndida como a noite silente, constelada.

Do seu olhar suave, aveludado e manso

Fugiam filtros doces e bons e magnéticos,

Que me envolviam a alma, inteira, no remanso

Das coisas encantadas, dos ímpetos estéticos!

Cantava!... A sua voz harmônica, febril

De sons avermelhados, profundos, sonorosos

Ia morrer ao longe... a vastidão do anil!...

Depois... perdeu-se além, nas névoas da distância...

Deixou-me o coração em saltos vigorosos...

Sabes ela quem era? — A fugidia infância...

 

Viagem no azul

A Eufrásio Cunha

Fantasia! Onde me levas

Nas tuas asas douradas?

Olha que o filho das trevas

Tem as vistas acanhadas.

Peço-te: — não voes tanto

Pelas camadas de luz!

Dos meus olhos salta o pranto

Das alegrias azuis!...

— Não temas. As sensações

— Que dei a Goethe, a Camões,

— Eu vou te dar mais além...

— Vês o leito das auroras?...

— Ali... pousa o sol, por horas

— Nós vamos pousar também.

 

A Balbino de Brito

Como há tanta alegria

Na casinha onde ela mora!

Pela louçã pradaria

Como há tanta alegria!

E que celeste harmonia

Quando vem rompendo a aurora!

Como há tanta alegria

Na casinha onde ela mora!

 

Linhas cor-de-rosa

Brinquemos, filha, brinquemos

Por esta estrada de amores,

Risos e cantos teremos,

Brinquemos, filha, brinquemos;

Perfumes bons sorveremos

Das mais encantadas flores!...

Brinquemos, filha, brinquemos

Por esta estrada de amores.

 

Alerta!

A Santos Lostada

Alerta! meu amigo! — E vamos batalhar

À luz da Ideia Nova: à linha da vanguarda!

O forte alexandrino façamos rebrilhar,

Valentes derrubemos a doida e velha guarda!

Alerta! que já ouço o toque do clarim:

Alegre, tão vermelho como é a alvorada!

E tenho as minhas armas mais brancas que o marfim,

E o pulso inda mais rijo que a folha de uma espada!

Batamos fortemente o velho Romantismo,

Que o século é puramente evolucionismo,

De Hartmann, de Spencer, Zola e Letourneau!

Batamos rijamente os tontos pessimistas,

Que o século é de gigantes, de assombros e conquistas,

E não de Augusto Comte, Chateaubriand ou Hugo!

 

Último pedido

Já que me negaste, Amélia,

Um olhar, uma esperança,

Dá-me ao menos, por lembrança,

Essa bonita camélia

Que levas presa na trança.

 

O Bem

A Teotônio Nunes

És claro como a luz, ó límpido ideal!

Nos braços musculosos, enormes e atléticos

Suster sabes no alto os vultos esqueléticos

Batidos pela fome — o hórrido chacal.

Tens a suavidade de um seio maternal!

E domas tenazmente os monstros epiléticos

Que querem que do lar, os gozos bons, estéticos

Se afastem para sempre, à rude voz do Mal.

Tu cantas dentro em nós elétricas canções!

A tua voz sibila à rubra luz do dia

Como no Saara os urros, frenéticos, dos leões!

      

Ó Bem! tu vences sempre as lutas de agonia!

Tu és o filtro brando dos grandes corações,

Inclino-me convicto à tua idolatria.

 

À noite

A Izidoro Leveque

A lua derrama a flux

Pelas campinas em flor,

Um cataclismo de luz

De extraordinário palor!

Gotas enormes de pranto

Rolam sutis das alturas:

É o orvalho puro e santo

Que dá vigor às verduras.

As flores brancas da noite

Vão ledas desabrochando

Da brisa ao suave açoite.

E pelas matas soturnas

Passa, agoureiro, gritando

Um bando de aves noturnas.

 

Suavidades

Um teu olhar, um só, ó meiga Dulcineia,

Me embala, me adormece em loira fantasia!

E como me arrebata a santa melopeia

Da tua voz sonora, esplêndida de harmonia!

E como eu sonho a vida um róseo paraíso,

Onde volitam, em bando, as ilusões douradas,

E como no meu peito eu sinto as revoadas

Das alegrias mansas, à luz de um teu sorriso!

Como tão amplamente a alma me ilumina

De estranha claridão, imensa, cristalina

O sol divino e puro do teu sereno amor!...

Como me faz ter zelos a asa de um desgosto,

Se vem celeremente avassalar-te o rosto

Aveludado e lindo, ó minha casta flor!

 

Alegre

Como estás hoje ridente

Flor azul dos meus cantares!

Criança linda, inocente,

Como estás hoje ridente!

Até parece que a gente

Vê rir esses teus olhares!...

Como estás hoje ridente

Flor azul dos meus cantares!

 

Luiza Michel

(No movimento revolucionário da França de 71)

A Cruz e Sousa

Indômita, terrível, enérgica, alucinada

Marchava na vanguarda dos ultrarradicais,

E ia a petroleira fanática, desvairada

Por entre a funda orquestra dos gritos e dos ais!

Era a imagem rubra da deusa da loucura

Infrene, destemida, pisando sobre espadas!

Tinha o olhar da hiena numa caverna escura,

Era o Satã de Milton à luz das barricadas!

Nas mãos rijas, possantes, a férrea carabina,

Ela brandia intrépida, ciclópica, leonina

Gigante dos combates na fúria do vencer!...

No peito tinha espasmos titânicos!... e os ódios

Saltavam quais pelouros nos negros episódios,

Uivando contra o cetro ferrenho do Poder!

 

Lá...

Vamos fazer nosso ninho

Naquelas plagas azuis,

Onde canta o passarinho

Vamos fazer nosso ninho,

É de rosas o caminho

E tem canções e tem luz!

Vamos fazer nosso ninho

Naquelas plagas azuis.

 

Os meus desejos

Voam, revoam, cantando,

Sobre os teus olhos gentis,

Os meus desejos, em bando,

Voam, revoam, cantando;

E tu, flor, triste, cismando,

Nem sentes que eles, sutis,

Voam, revoam, cantando,

Sobre os teus olhos gentis.

 

O fim do serão

A João Corcoroca

Era noite. Uma velhinha

Fiava para uma teia,

Ao lado sua netinha

Cozia à luz da candeia.

Braz e Antero, os diletos

Irmãos da boa Maria,

Ouviam pasmos, quietos

Um conto de bruxaria.

Nisso lá fora o trovão

Estronda, acordando o cão...

Ouve-se o vento zunir...

Correm todos apressados

E vão atemorizados

Para as alcovas dormir.

 

!

No álbum de Manoel Biguibi, por baixo do retrato de C. de Abreu

Ao contemplar o teu busto,

O bardo do sentimento,

Que morreste qual arbusto

Ao sopro do horrível vento;

Ao contemplar a grandeza

Do teu crânio de vulcão,

Deixo-te esta singeleza:

— Um ponto de exclamação!

 

A tua rabeca

A Vicente Cernicchiaro

Perfeitamente exprime as brancas harmonias

Das noites de Veneza — as noites do luar,

Quando a italiana em loiras fantasias

Sobre o balcão reclina-se em lânguido cismar.

Perfeitamente exprime as grandes agonias

Que vão em turbilhões nas almas a penas,

E sente dentro em si essas paixões sombrias

Que tem os vagalhões, ciclópicos, do mar!

Perfeitamente imita o rude temporal

Quando braceja indômito pelo infinito afora!...

O tétrico gemer da voz do vendaval!...

E, olhando-a amplamente, no arfar da sensação,

Exclamo: — Esta rabeca esplêndida, sonora

Tem nervos e artérias, tem alma e coração!...

 

A tua mão

Quero esconder entre as minhas

A tua mimosa mão,

Furtando-a às vistas mesquinhas

Quero esconder entre as minhas;

Depois encher as covinhas

Com coisas do coração!...

Quero esconder entre as minhas

A tua mimosa mão!

 

Flor azul

No Álbum da Exmª. Dª. Amélia Taulois

Esta mimosa flor, cândida, aveludada

Nascida ao esplendor da vossa formosura,

Onde há uns tons olímpicos e brandos, de frescura

Como o etéreo olhar de uma mulher amara;

Esta flor ideal, aérea e perfumada,

Que abriu as suas pétalas tão cheias de doçura

Dentro do peito meu, ó linda criatura!

E que tem a limpidez divina da alvorada;

Que cresce enormemente de dia para dia,

À luz do vosso olhar cerúleo, lampejante

Como cresce no prado, ao sol, uma alegria;

E que brotou de chofre num divinal instante;

É — a flor azul e boa da minha simpatia,

O cáctus rescendente e puro do Levante.

 

À Nicota

Sinto-me alegre, criança,

À luz dos olhinhos teus!

A transbordar de esperança

Sinto-me alegre, criança.

Como a tua loira trança,

São loiros os destinos meus!...

Sinto-me alegre, criança,

À luz dos olhinhos teus!

 

No Cemitério

À memória de meu irmãozinho Terêncio Várzea

Quando eu fui procurar aquela sepultura

Que o teu corpinho encerra, ó lírio magoado!

Que foste, inda na quadra esplêndida da ventura,

Pela rudez da morte, hiênica, levado;

Quando eu deixei cair as lágrimas saudosas

Vibradas pela força intensa da agonia,

Sobre essa terra dura, extremamente fria,

Coberta de junquilhos, de cravos e de rosas;

Quando cismava triste à luz crepuscular

Nas tuas frases doces, suaves e divinas,

Nos teus olhinhos meigos, no teu fantasiar;

Senti que as flores todas, num tétrico lirismo,

Como que murmuravam!... ó mélicas surdinas!...

E pude crer, então, nas leis do Transformismo.

 

Noturno

Antes que me veja o dia

No portão do teu jardim,

Toma este beijo Maria

Antes que me veja o dia

Dos ninhos salta a alegria...

Vou partir, ó querubim!

Antes que me veja o dia

No portão do teu jardim.

 

Sombras

Enquanto do Atlântico, por sobre a vaga azul,

Tu vais, pálida virgem, em busca do teu lar,

E deixas estas plagas, formosas, cá do sul

Talvez co’ a alma envolta em nuvens de pesar;

Eu sinto no meu peito roçar profundamente

A asa tristeza elástica, sombria,

A definhar-se aos poucos, sutil, sensivelmente

A magnólia branca, esplêndida, d’ alegria!

 

Azulejos

No álbum da menina Olga

O colibri doidejante

Das veigas puras do lar,

Tens as cores do Levante

Ó colibri doidejante,

Quando o sol vem flamejante

Dourando as grimpas do ar!...

Ó colibri doidejante

Das veigas puras do lar.

Brinca a luz de uma alvorada

Nos teus ideais olhinhos!

Como falena dourada

Brinca a luz de uma alvorada.

E, num bando, em revoada,

Te envolvem meigos carinhos!

Brinca a luz de uma alvorada

Nos teus ideais olhinhos!

És um misto de candura

E coisas fantasiosas!

Radiosa criatura,

És um misto de candura!

Do teu rosto na brancura

Há flores misteriosas!

És um misto de candura

E coisas fantasiosas!

 

No tronco

A Lopes Júnior

Num tronco de madeira aspérrimo, farpado,

Eu vi o negro escravo com cordas amarrado;

E um medonho homem feroz como uma hiena,

Cortá-lo de vergalho, sem compaixão, sem pena!

De sangue rubras gotas ensopam todo o chão,

É um Caim matando a látego seu irmão;

É uma besta fera, ao leopardo igual,

Em vez de coração, tem um abutre — o Mal.

E dá-lhe, e se amiúdam os golpes cruciantes...

Nos olhos do cativo colares de brilhantes,

Em fios vem rolando!... Ó pranto de Jesus!...

O Sol vai no poente vermelho descambando...

A noite lá do Azul tristonha vem tombando...

Na lâmpada da alma extingue-se-lhe a luz!...

 

Nostalgia

À tarde, quando vem a luz crepuscular,

Entornar-nos no peito uma tristeza etérea,

Tão doce e tão sutil — divinamente aérea,

Repassada de cantos, aromas e luar;

Quando as quimeras voam em bandos cintilantes,

E as notas da nossa alma — as aves da saudade,

Vão por entre as esferas enormes, flamejantes,

A voar, a voar por essa imensidade;

E quando vem a lua — o astro dulçoroso —

Vestir a natureza de um branco luminoso,

Esplêndido, fantástico, angélico, ideal...

Eu choro então por ti, ó pálida Maria,

Ó criança gentil, que te ausentaste um dia,

Levada na atração de um gozo sensual!...

 

Deixa

Se compreendes, flor,

Quanto te adoro e quero,

E como te venero

Na ardência deste amor;

Se compreendes bem

O que é uma paixão,

Sofrer esse desdém

Que corta o coração.

Deixa que ao teu olhar

Azul, aveludado,

Sentindo o peito arfar,

Eu ande agrilhoado.

 

Marocas

Como tu vais cantando e rindo pela estrada

Direita e arminosa da tua vida em flor,

Sentindo o coração em cada alvorada

Abrir-se largamente em explosões de amor!

Levas dentro do peito as ilusões serenas

Que tem os róseos sonhos, aéreos, infantis,

Vais vendo florescer as brancas açucenas,

Os musgos e jasmins, as coisas mais gentis.

E tens no teu olhar a mágica atração,

Que tem a dulçorosa e esplêndida claridão

Da lua — o astro olímpico e belo e mavioso!...

E, oh dupla ventura! oh alegria rara!

A mão que a felicidade à vida te depara

Torna-me o meu viver suave e luminoso!

 

Desejo

Na tua trança aloirada

Quero prender uma flor,

De pét’las cor d’alvorada,

Na tua trança aloirada,

Sim, que a vida, minha amada,

Para mim tem hinos de amor!...

Na tua trança aloirada

Quero prender uma flor.

 

Tua boca

Meu Deus! como é tão linda

Tua boquinha breve!

Ó bela flor de neve,

Ó cândida Almerinda!

Teteia primorosa,

Boca de querubim!

Vermelha como a rosa,

Fresca como o jasmim.

Sonho que às vezes beijo

Esse vasinho ideal,

E, na ardência de um desejo,

Quero sorver, é bem

Ó lírio virginal,

O mel que ele contém!...

 

A terra da luz

A João Lopes Ferreira Filho

São livres os escravos! quero empunhar a lira!

Quero que esta alma ardente um canto audaz desfira,

Quero enlaçar meus hinos aos murmúrios do vento,

Às harpas das estrelas, ao mar, ao firmamento!...

Castro Alves

Ergueu-se majestoso o sol da liberdade

Nas bandas cor de ouro e rubras do nascente!

E foi o Ceará — o mar da igualdade —

Quem refletiu primeiro a sua luz ardente!

Moderno Prometeu que à culta humanidade

Vira-se dizendo: — “Quebrei férrea corrente

Que ao Cáucaso prendia-me da vil escravidão!...

Agora, quero e posso, na senda do Progresso,

Marchar, doido cometa n’arena da amplidão!...”

E vai assim seguindo as leis do Universo...

E há de ufanamente os muros do Porvir

Indômito escalar, em pura luz imerso.

Eu o vejo embrenhar-se no céu do progredir,

Deixando atrás de si um traço luminoso

Que a turba dos escravos o seio vai abrir!

No peito o coração em êxtase assombroso

Dilata-se largamente a trescalar ventura,

Num amplo palpitar, nuns restos bons de gozo.

                         

No crânio sente choques horríveis, de loucura...

Vertigens sublimadas duplicam-lhe o sentido

Co’a rapidez que a bala estoura uma armadura!

E vai celeremente, o doido foragido,

Para os festins divinos, libérrimos das nações,

A desprender auroras da fímbria do vestido!

Caminha!... É toda a estrada um mar de corações!...

E cai do Firmamento de estrelas um chuveiro

Que envolvem-no de luzes em loiras explosões!

Caminha!... É a partícula do solo brasileiro,

Que na cruzada enorme chamada — Abolição

Tem colossos que extinguem o negro cativeiro!...

E segue!... E tem por guia o facho da verdade;

Seus filhos são mais livres que os ventos cá do sul,

Seus crânios são banhados de rubra claridade.

Na sua fronte heroica, serena como o Azul,

Vê-se uma c’roa linda feita de coisas mansas,

De rosas e de arminhos, de risos de crianças!...

E marcha por entre nuvens d’esplêndida magia!

Não há um ponto negro... refundem-se alvoradas

Por sobre azuis esferas, em prantos de alegria!...

E vai sedento sempre de altíssimas conquistas;

Encontra Homeros cegos e os imerge em luz,

Divinamente abrindo as suas murchas vistas!

E trilha sempre a estrada das coisas encantadas,

Levando sobre o peito um livro feito cruz,

Onde s’encontram páginas escuras e douradas!

É a Eneida santa escrita pela Sorte

Com a tinta dos negrumes, co’a tinta das manhãs,

No âmbito de sua alma extremamente forte.

Caminha!... E vai jogando em lavas de granito

Dilúvios dessa luz chamada — liberdade

Que vai bater de chofre às fibras do Infinito!...

...

Que fato mais altivo, que fato mais titânico,

Dizer-se para o mundo: — “Sou livre!... vou seguir,

Ó Pátria me acompanha no caminhar atlântico

Que eu vou pegar com as mãos os astros do Porvir!...”

 

Guilherme de Azevedo

Ele tinha na verve enorme, cor de rosa

Uns tons alegres, vivos, de límpida frescura;

E cada estrofe sua, altiva, luminosa.

Exata e corretíssima era uma arquitetura.

E nas radiações elétricas, douradas,

Do nítido, heineano estilo de gigante,

Havia o esplendor das grandes alvoradas

Que banham de vermelho as bandas do Levante.

Seu crânio escultural, pujante, iluminado,

Por dentro todo azul e todo constelado

Assim como o infinito; seu crânio genial,

Que produzia assombros e coisas resplendentes,

— Era um crânio que tinha cintilações ardentes,

— Era um crânio queimado aos fogos do Ideal!...

 

Paisagem azul

O lago é vasto e manso, é azulado e lindo...

Nas margens surgem flores e cândidas verduras.

Mil aves iriadas por entre as espessuras

Improvisam um scherzo harmonioso, infindo!...

A luz em vagalhões de límpidos fulgores

O píncaro da serra alegre vem dourando!

Gaivotas mansas, brancas, em círculos, voando,

Enfeitam a região enorme dos condores.

À flor das águas voga esplêndida, gentil

A gôndola cor de rosa, o barco dos amores,

Levado pela aragem de uma manhã de Abril!...

Na popa a minha amada, a doce criatura,

Das cismas azulinas, dos mágicos albores,

Assoma, iluminada e cheia de candura!...

 

Ao largo!

Por estas ondas a fora,

No nosso batel de amores,

Voemos, criança, agora,

Por estas ondas afora!

Bem vês, aparece a aurora...

Busquemos ninhos e flores...

Por estas ondas afora,

No nosso batel de amores.

 

Versos à...

Ó pérola divina, ó flor azul das salas,

Mais pura do que um astro, mais bela do que Palas,

Prendeste-me aos teus olhos, ao lábio purpurino.

Ao teu sorrir honesto, ao seio alabastrino,

Ao teu falar etéreo, ao teu falar suave,

Como numa gaiola se prende canora ave!

Tu és a minha vida e és o meu amor:

À luz dum teu olhar eu vivo como a flor

Que vive à luz do sol, altiva sobre o galho,

Esperando que à noite as gotas do orvalho

Venham lhe dar frescura e sensações sutis,

Como lhe dão os beijos dos louros colibris!

Com a chave de um olhar cerúleo, lampejante

Tu abres o meu peito, e deixas num instante

Precipitar-se nele, nervosos, magnéticos

Uns êxtases sublimes, aurorais, estéticos,

Que dão-me um gozo infindo, ardente, de paixão,

No amplo flamejar da luz do coração!

Porém... se algum dia, tiveres, por meu mal,

De erguer contra o meu peito a folha do punhal

Enorme da traição, ou mesmo do sarcasmo,

Para despedaçares o grande entusiasmo

Que sinto dentro da alma efervescer por ti,

Ó minha doce amada, ó níveo bogari;

Deixa que ao menos farte-me nas vibrações de luz

Desses teus olhos grandes; sublimemente azuis!...

 

Triste

Como em teu rosto sereno,

Nessa serena brancura,

Se vê aquela tristura

Dos olhos do Nazareno!

Parece que a limpidez

Sublime do teu olhar,

Veste sombrio pesar,

Branca flor de candidez!

E como eu fico cismando

Na mágoa que te tortura

Quando te vejo chorando!

Ou quando a desesperança

Traz-te assim na desventura,

Minha formosa criança!

 

No álbum

De minha Irmã Aurélia Várzea

Ó minha meiga irmã, ó pérola d’Ofir,

Ó colibri dourado das minhas afeições!

Eu sinto no meu peito a flor da alma se abrir

De um teu sorriso rubro às grandes claridões!

E folheando o livro — o álbum perfumoso —

Que me acabais de dar, alegremente, assim...

Procuro nesta página, olhando-a, afetuoso,

Deixar-te um meu escrito, ó louro querubim!

Porém, na mudez fria, imensa, do embaraço,

A contemplar, cismando, as amplidões do Espaço

Com a mente a revolver-se-me no azul das fantasias,

Debalde intento e quero, em linhas cor-de-rosas,

Gravar, ó meu amor, mil frases sonorosas,

’Strofes só de beijos e brancas harmonias!...

 

Cintilações

Como são belos os dias

Da tua branca existência!

Quantos beijos! Que harmonias!

Como são belos os dias!

Que de loiras alegrias

Tens na tua florescência!...

Como são belos os dias

Da tua branca existência!

 

Ao ver-te de novo

A M. D.

Do tempo que te amei, ó mansa criatura,

Das cismas ideais, das loiras fantasias,

Quando sentia o peito saltando de ventura

E o coração boiando em ondas de harmonias;

Dos teus sorrisos doces, feitos só de alvorada,

Que me criavam na alma uns sonhos cristalinos,

Eu tenho ainda saudade, ó flor idolatrada,

Que me trazias preso aos lábios purpurinos!...

Depois de tanto tempo... ao ver o teu semblante,

Tão cheio de magia, esbelto, fascinante

Como uma magnólia enorme, resplendente,

Eu fico a contemplá-lo num êxtase patético,

E sinto um eflúvio doce e bom e magnético

E uma alegria estranha, indômita, fremente!...

 

Teus anos

A João Praxedes

Como auroras boreais

Enormes e vermelhantes

Das zonas setentrionais

Lá nas geleiras gigantes,

Espalhando cambiantes

Elétricas e matinais

Borboletas doudejantes

Que espelham em mil cristais;

Como os sorrisos da esposa

Que nos dão crenças infindas;

Como as pétalas duma rosa;

Assim são esses arcanos,

Essas primaveras lindas:

— Teus rubros dezoito anos!

 

Sons

No álbum da Exmª. Srª. Dª. Constança D’Arnizaut

A voz, a quem dedico uma afeição sadia,

Pura como um sorriso esplêndido, infantil,

E que trazeis no olhar uns tons de simpatia

Doces como os eflúvios de uma manhã d’Abril;

A voz, Dª. Constança, que tendes, no falar,

Umas coisas ideais, tão mansas, tão divinas,

Que fazem-nos lembrar os cantos ao luar,

Os sonhos de criança, as flores purpurinas;

Deixo, sobre esta página, umas escuras linhas,

Sem poesia e nexo, e sem inspiração,

E que, como no inverno as pobres andorinhas,

Precisam de um abrigo em vosso coração.

 

Pela estrada da vida

Como vais alegremente

Por este caminho a fora!

Florzinha resplandecente,

Como vais alegremente!

Em cada manhã nitente

Tu tens mil beijos da aurora!...

Como vais alegremente

Por este caminho a fora!  

 

Simplicidade

Sou rapariga modesta:

E amo de coração

A um rapaz — o João

Que esteve aqui pela festa.

Não sou das moças mais feias,

E tenho um ar engraçado,

Ando de xale encarnado

E de tamancos sem meias.

Gosto dum laço de fita.

Dedilho bem na viola.

Sei dançar a Chama-Rita.

Tenho um defeito... Quer ver?

E isto me desconsola,

É não saber ainda ler.

 

Lampejos

Depois que te vi, criança,

Sinto no peito um clarim!

Vivo ébrio d’esperança

Depois que te vi, criança!

E guardo como lembrança

De ti, aquele jasmim...

Depois que te vi, criança,

Sinto no peito um clarim!

 

Urgente

Ao Clube Abolicionista

É preciso fazer um esforço de gigante!

A vontade tornar como couraça d’aço,

E ter dentro do peito a alma flamejante,

Como um astro seguro às amplidões do Espaço!...

É preciso invadir o escuro das senzalas,

Com um archote d’estrelas metido em cada mão,

Iluminá-las todas como brilhantes salas,

E fazer do cativo um livre nosso irmão!...

É preciso lutar, lutar heroicamente,

Assim como quem luta c’um monstro ou uma serpente

Em um lugar escuro, à beira duma estrada;

E depois sacudir os jorros luminosos,

Da luz da liberdade, aos párias sequiosos,

Em espadanações alegres, de alvorada.

 

Força equilibrante

A Ti

Como o luar bate em cheio,

Na superfície do mar,

Assim bate no teu seio

O meu doudo imaginar.

Como a ponta de uma seta

Traspassa uma ave no ar...

Assim me fere a baioneta

Aguda, de teu olhar!

 

Abolicionismo

A Bernardino Varela

Assim! É entornar em borbotões azuis

Por dentro das senzalas as filtrações do Bem;

Encher as almas negras de frêmitos de luz,

Jogar as esperanças, em bando, para além!

Assim! É atirar aos míseros cativos,

A mansidão suave dos gozos luminosos,

E ter no coração os êxtases explosivos

Que sacodem os peitos alegres, sonorosos.

Assim! É trabalhar, ó rijos bandeirantes,

É formar o Futuro das forças do Presente,

E lutar, e lutar assim como gigantes!

É só por um trabalho molecular, paciente,

Que a Natureza forma os mundos flamejantes

E o psiquismo humano indômito, potente!

 

As três irmãs

Na folha de um álbum

Ritinha

Dª. Ritinha, a senhora

É linda, boa e galante;

Seu corpo é feito d’aurora,

Sua alma dum diamante! 

Amália

Há um quê, uma expressão,

Nos seus olhinhos azuis,

Que a gente pensa que são

Dois grandes mundos de luz.

Perpétua

É ainda um liriozinho

Rescendente, angelical,

Que cresce à luz do carinho

Suave, bom, paternal.

 

Festim vermelho

Ao Dr. Remédios Monteiro

Douraram-se de súbito os largos horizontes,

Iluminou-se a terra. O sol por sobre os montes

Sacode raios de ouro esplêndidos, suaves,

Como beijos de mãe e cânticos de aves.

A aurora desprendeu as suas loiras tranças,

Juvenilmente a rir-se assim como as crianças.

A intensa claridão da fresca luz do dia,

Mergulha-nos a alma num banho d’alegria.

A luz tem eflúvios bons, elétricos, sutis,

Ela é feita de risos, de graças juvenis,

De beijos ideais, alegres, triunfantes

E de canções de amor e coisas cintilantes.

Ela faz desabrochar as purpurinas rosas

E rescender com força as árvores vigorosas.

Faz voar pelo Azul as andorinhas mansas

E brotar-nos no peito as verdes esperanças.

É um fluido tão doce e bom e tão perfeito

Que o coração nos traz aberto e satisfeito.

A luz tem uma atração magnética, sutil

E entorna-nos na alma as fresquidões d’Abril.

Atira-se no ar um rumor infinito

Como o tombar fatal de um aerólito.

Inundações de sons ondeiam pelo Espaço

Clarínicas, sonoras, como as canções do Tasso.

É toda a Fortaleza uma explosão de luz

Co’umas salpicações olímpicas, azuis!

Alastra o horizonte um fulvo cataclismo.

Rebenta a terra em flores. E sai do escuro abismo

Medonho, asfixiante da vil escravidão

Uma porção de gente negra como o carvão,

Que traz nos lábios secos um riso d’ironia

E n’alma uma paixão feroz, doida, sombria,

E que ao sentir banhar-lhe aquela claridão

Primaveril e santa da luz da Redenção,

Tem êxtases divinos e treme num desmaio,

Como treme no Azul o fuzilar do raio.

E cresce e vem surgindo aquela turba escura

Que nunca conheceu os estos de ventura.

Vem saindo da treva exausta e dolorida,

Silenciosa e triste, cansada já da vida,

Mirrada pelos golpes terríveis do vergalho

E pelo excesso indômito e forte do trabalho.

Mas, ao ver na amplidão cintilações brilhantes,

Fulgindo como o sol e como os diamantes,

Movimentar-se o povo, em grandes borbotões,

Entregue ao vasto arfar das loiras sensações,

Lançar-se para ele em gritos colossais

Dizendo: — Já sois livres, já sois nossos iguais;

Ela sente-se agitada e sente-se convulsa,

Enquanto de alegria o coração lhe pulsa.

A quermesse prossegue. Orquestras de metal

Impelem para o céu um hino marcial.

Tumultua a cidade — um mar de risos bons

Cheio de madrigais e de irradiações!

A grande voz do povo, a rija voz de aço,

Harmoniza a limpidez, esplêndida, do Espaço.

E a lua, a alvura doce, a roda de marfim,

Vem banhar de esplendor o resto do festim.

 

Doente

Ao ver a palidez marmórea do teu rosto

Outrora avermelhado, ó lírio de candura,

E hoje envolto só em nuvens de desgosto,

De medos bem cruéis, d’angélica tristura;

Ao ver perfeitamente a vida tormentosa

Que vais atravessando, à míngua duns amores;

Ao ver que a mão terrível da sorte caprichosa

Te guia para o abismo escuro dos horrores;

Ao ver-te assim doente, a tez enevoada,

Extremamente fraca e triste e cismadora,

Num mar de conjecturas, medonho, mergulhada;

Não cesso de pedir a Deus, ardentemente,

Para que a alegria te volte em cada aurora

Nas asas de um sorriso, infindo, resplendente!...

 

Fulgores

Sinto o peito iluminado

De um luar fresco e divino,

E penso no meu destino

Quando me vejo a teu lado.

E à doce limpidez

Dos teus olhinhos azuis,

Cheios de graça e de luz,

Lampejações, candidez;

Sonho com lírios, esp’ranças,

Canções e beijos sutis,

Que me lembram as pombas mansas,

Os ninhos dos colibris!...